2 de jun. de 2011

Deficiência cultural.


Deficiência no dicionário está classificada como “imperfeição, falta ou lacuna” e que a origem da palavra é do Latim DEFICIENS, do verbo DEFICERE, “desertar, revoltar-se, falhar”, de DE-, “fora”, mais FACERE, “fazer, realizar”.

Assim posso falar mais tranqüilo, sem interpretações erradas sobre a minha opinião.

O mundo atual é baseado em ícones, suas estruturas intelectuais pouco sólidas são regidas e sustentadas por ícones que a massa idolatra, imita e defende. Na introdução que tivemos ao chamado “mundo moderno” que na minha visão particular, era um recém nascido após a segunda grande guerra, estes ícones aos quais as massas começavam a idolatrar eram poucos, logo havia pouca divisão, na verdade, no início havia somente duas faces na moeda, a conservadora contra inovações e a força rebelde jovem que tentava mudar tudo a todo tempo.

Com o passar dos anos, as influências criadas por estes ícones sobre as pessoas não se desfizeram, apenas sofreram metamorfoses e divisões. Músicas foram classificadas em centenas de estilos e esses estilos eram picotados aos montes para poderem se adaptar ao maior número de pessoa, restritamente. No entanto o acumulo de ícones nos levou a decadência.

Hoje vemos pessoas divididas entre milhares de escolhas em todos os aspectos por todo o mundo, mas não notamos que os tempos passaram, porém não mudaram. A geração atual ri da anterior e vice-versa, como acontecia na época dos rebeldes revolucionários que lutavam contra os conservadores extremistas. O que mudou, foram os ícones.

Esse atrito de informações sempre foi tratado com desrespeito e ofensas entre as partes, hoje mais do que nunca, sofremos com preconceito de todos os lados e a racionalização de cultura por onde quer que se vá, além de má distribuição do poder não o deixando caber onde deveria e o bloqueio ao alcance da intelectualidade que acontece desde de jovens acaba nos condicionando a votar sem entender o que estamos fazemos, pra continuar fazendo, sendo manipulados por quem ganha quando a gente o faz.

As deficiências culturais das pessoas estão nas letras de funk, nos capítulos repetitivos e incessantes das novelas surreais. Está no entretenimento vazio e sem conteúdo, na difusão do sexo como um ato irresponsável e desenfreado que se torna quase público.

Todos nós sabemos que isso começa nas escolas onde criamos o garoto estranho e o que bate nele, o bonito e o feio sedento de vingança ou a patricinha rica que esnoba a moreninha pobre. É o Bulling coexistindo com a sensatez desde sempre e não somente agora onde a Internet nos ajuda a ver as coisas como elas realmente são.

Algumas deficiências jamais podem ser convertidas, mas nem por isso precisam ser intensificadas, porque a visão social das pessoas, quando existe, está limitada ao que a mídia mostra, afinal é a mídia que nos classifica socialmente. O que deveria servir para nos unir, nos mantém cada vez mais separados.

Vimos à paz e o amor se dissolverem com o tempo e acabamos perdidos no meio de tanto pó dos Embalos de sábado à noite. Perdemos nossa infância com agulhas, ouvimos nossa alma rebelde quando formávamos uma Legião Urbana de apaixonados pelo som das pedras que rolam nas cordas de um violão. Regredimos a alegria da nossa infância enchendo nossos estilingues e atiradeiras com Mamonas assassinas e quando estávamos lá, nos lembrávamos sem ter pena da clássica música popular brasileira que tocou os corações, gastou solados de sapatos dos nossos pais nos salões da vida, de paredes feitas em canção, letra e Luiz melodia. Voaram tucanos, brigaram trabalhadores e acabaram partidos enquanto um gay sofreu de AIDS ensinando que o tempo, O tempo não para.

“Dias sim, dias não, eu vou sobrevivendo sem um arranhão da caridade de quem me detesta, eu vejo o futuro repetir o passado”, com crianças e suas roupas coloridas, nas maquiagens escuras borradas de lágrimas, nos heróis gordinhos e lutadores de vale tudo que espancam o preconceito ou apenas o joga no chão. Quando Caetano cantar o tema do próximo filme e Fernanda Montenegro merecer o Oscar, mas não levar nem Cannes, vou me remediar sujando o chão de giz que um tal de Ramalho escrevia ou colorir com lápis meu coração que não é de papel.

Vestir o terno azul e "HEI HEI" que onda, ir pra festa de arromba, ligar na sessão desenho e ver as torres atingidas por aviões, ou digo bombas? Ser um sabichão, almoçar sentado no chão enquanto travo uma luta épica entre Chavez e Chapolin, quer saber, eu digo sim.

Somos deficientes desde os primórdios, deficientes da nossa memória, que mata nossos ídolos, quando os novos são aclamados somente por nascer, mas falta muito para os atuais aprenderem o que é música, cinema, teatro, literatura, crua, nua, rua, de uma forma plena, somos deficientes de cultura.

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